sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

TÉCNICAS DE INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA.

O termo psicopedagogia apresenta-se como uma característica especial. Á primeira vista o termo sugere tratar-se de uma aplicação da Psicologia á Pedagogia, porém tal definição não reflete o significado que esse termo assume em razão do seu nascimento, o da necessidade de uma melhor compreensão do processo de aprendizagem.

Os diversos autores que tratam da Psicopedagogia enfatizam o seu caráter interdisciplinar que consiste em criar um objeto novo que não pertence a ninguém. Reconhecer tal caráter significa admitir a sua especificidade enquanto estudo, uma vez que, buscando conhecimento em outros campos como á Psicologia, Psicanálise, Linguística, Fonoaudióloga , Medicina e Pedagogia cria o seu próprio objeto de estudo.

De acordo com Neves, a “psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as realidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto. E, mais, procurando estudar a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos”( 1991, p. 12).

Segundo Scoz, “a psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, e numa ação profissional deve englobar vários campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os”( 1992,p. 2).

Essa considerações em relação ao objeto de estudo da Psicopedagogia sugerem que há um certo consenso quanto ao fato que ela deve ocupar-se em estudar a aprendizagem humana, porém é uma ilusão pensar que tal consenso nos conduza, a todos, a um único caminho.

Portanto a Psicopedagogia estuda as características da aprendizagem humana: como se aprende, como essa aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada por vários fatores, como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhece-las, trata-las e preveni-las.

Assim tem-se nesta uma teoria que se une o fazer pedagógico ao psicológicos, levando em conta as realidades internas e externas do sujeito, a fim de organizar a vida escolar da criança, dentro das suas individualidades trabalhando as dificuldades de aprendizagens e oferecendo uma aprendizagem significativa.

Falar de dificuldades de aprendizagem é algo corriqueiro e comum tanto em nossas escolas como nas clínicas de acompanhamento psicopedagógico. O número de qualificações e nomenclaturas para justificar/explicar uma criança que não aprende é crescente e termos como distúrbios, desordens, déficits, entre tantos outros, são facilmente utilizados. Mas é preciso ter clareza da diferença entre dificuldade de aprendizagem, defasagem de conteúdos e imaturidade neurológica.

De acordo com a Definição do Comitê Nacional Americano de Dificuldades de Aprendizagem, a dificuldade de aprendizagem é um grupo heterogêneo de transtornos que se manifestam por dificuldades significativas na aquisição e uso da escuta, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Esses transtornos são intrínsecos ao indivíduo, supondo-se à disfunção do sistema nervoso central, e podem ocorrer ao longo do ciclo vital. Podem existir junto com as dificuldades de aprendizagem, problemas nas condutas de auto-regulação, percepção e interação social, mas que não constituem, por si próprias, uma dificuldade de aprendizagem.

Ainda que estas possam ocorrer concomitante com outras condições incapacitantes (por exemplo: deficiência sensorial, retardo mental, transtornos emocionais graves) ou por influências extrínsecas (diferenças culturais, instrução inapropriada ou insuficiente) não são o resultado dessas condições ou influências.

Embora a própria definição do termo dificuldades de aprendizagem seja conceitualmente confusa e variável entre diferentes autores e perspectivas, é sempre bom lembrar que as qualificações usuais caminham sempre para “uma culpabilização da não aprendizagem”, que recai, na grande maioria das vezes, nos próprios alunos.
A necessidade de se considerar o não aprender como um processo, no qual inúmeros fatores estão atuando, deve recair sobre todos os profissionais que acabam sendo envolvidos numa situação de aprendizagem, entre eles: professores, psicopedagogos, fonoaudiólogos, neurologistas etc.
Ramozzi-Chiarottino, que realiza pesquisas nesse enfoque explica:
Depois de vários anos de observação do comportamento da criança em situação natural, chegamos à conclusão de que os distúrbios de aprendizagem são determinados por deficiências no aspecto endógeno do processo da cognição e de que a natureza de tais deficiências depende do meio no qual a criança vive e de suas possibilidades de ação neste meio, ou seja, depende das trocas do organismo com o meio, num período crítico de zero a sete anos (1994, p.83)

Portanto é necessário que haja intervenção conforme as características dos problemas apresentados pelas crianças, respeitando suas individualidades.

Ao se falar em diagnóstico, logo associa-se em análise, porém só podemos analisar algo se pudermos encontrar o que estamos analisando. Por esta razão quando dizemos que estamos fazendo um diagnóstico temos que saber o que estamos diagnosticando, para que estamos diagnosticando e por que diagnosticar.
Isto nos leva apensar que iremos analisar o problema de aprendizagem durante o diagnóstico psicopedagógico. Quando pensamos em problema de aprendizagem imaginamos as várias faces que podem compor este problema: Qual a ordem deste problema? Familiar? Da escola? Do sujeito? Da sociedade? De todos estes fatores associados? Para que se possa compreender qual o tipo de problema existente é necessário que o psicopedagogo esteja atento buscando todas as pistas possíveis.

O olhar e a escuta Psicopedagógica deverá ter como objetivo verificar como o educando está aprendendo e o que está dificultando o desenvolvimento de suas potencialidades. Só assim poderemos intervir de maneira adequada. Portanto durante o atendimento psicopedagógico temos que pensar o educando como alguém capaz que vive em um contexto familiar, escolar e social específico e de que maneira vivencia estes espaços para podermos ajudá-lo.

Um dos procedimento psicopedagógico que é necessário ser aplicado no processo de avaliação psicopedagógica é as provas Piagetianas para o diagnóstico operatório.

A aplicação das provas operatórias tem como objetivo determinar o nível de pensamento do sujeito realizando uma análise quantitativa, e reconhecer a diferenças funcionais realizando um estudo predominantemente qualitativo.
Segundo Weiss:

As provas operatórias têm como objetivo principal determinar o grau de aquisição de algumas noções-chave do desenvolvimento cognitivo, detectando o nível de pensamento alcançado pela criança, ou seja, o nível de estrutura cognoscitiva com que opera (2003, p. 106).

Ela ainda nos alerta que não se deve aplicar várias provas de conservação em uma mesma sessão, para se evitar a contaminação da forma de resposta. Observa que o psicopedagogo deverá fazer registros detalhados dos procedimentos da criança, observando e anotando suas falas, atitude, soluções que dá às questões, seus argumentos e juízos, como arruma o material. Isto será fundamental para a interpretação das condutas.
As provas operatórias consistem em:
Provas de conservação: (de pequenos conjuntos discretos de elementos, da quantidade de líquido, da quantidade de matéria);
Provas de classificação: (de intersecção de classes, de quantificação, da inclusão de classes);
Prova de seriação.
Para a avaliação, as respostas são divididas em três níveis:
Nível 1: Não há conservação, o sujeito não atinge o nível operatório nesse domínio;
Nível 2 ou intermediário: As respostas apresentam oscilações, instabilidade ou não são completas. Em um momento conservam, em outro não;
Nível 3: As respostas demonstram aquisição da noção sem vacilação.
Muito interessante o que Weiss nos diz sobre as diferentes condutas em provas distintas:
...pode ocorrer que o paciente não obtenha êxito em apenas uma prova, quando todo o conjunto sugere a sua possibilidade de êxito. Pode-se ver se há um significado particular para a ação dessa prova que sofra uma interferência emocional: encontramos várias vezes crianças, filhos de pais separados e com novos casamentos dos pais, que só não obtinham êxito na prova de intersecção de classes. Podemos ainda citar crianças muito dependentes dos adultos que ficam intimidadas com a contra-argumentação do terapeuta, e passam a concordar com o que ele fala, deixando de lado a operação que já são capazes de fazer.
(2003, p. 111).

Para dar os devidos encaminhamentos, o profissional precisa realizar um estudo aprofundado acerca de todas as informações que o diagnóstico lhe proporcionou.

BILBIOGRAFIA
BOSSA A. Nadia. A Psicopedagogia no Brasil. Porto Alegre: ed. Artes médicas Sul, 1994.

RAMOZZI-CHIAROTTINO, Z. Em busca do sentido da obra de Jean Piaget. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1994.

WEISS, M. L. L. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. Rio de Janeiro, DP&A, 2003.

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